ULISSES
Mil e duzentos anos antes do
nascimento de Jesus Cristo,
vivia na ilha grega de Ítaca um jovem príncipe
chamado Telémaco. Seu pai tinha partido para a guerra quando
ele era ainda bebé.
Agora Telémaco era crescido, quase
adulto - mas o pai
ainda não tinha voltado. Já se sabia, em Ítaca, que
a guerra acabara; todos sabiam que Tróia, a cidade inimiga,
havia sido conquistada e destruída. Dando embora o
desconto para as dificuldades de navegação e para os perigos do mar,
parecia estranho lá na ilha que Ulisses,
o pai de Telémaco, não tivesse regressado a casa.
Tão estranho que se espalhou
o boato de que Ulisses
tinha morrido. Em Ítaca,
toda a população passou gradualmente
a aceitar essa realidade. O palácio onde Telémaco vivia com Penélope, sua mãe, encheu-se
de pretendentes, que queriam
à força que a rainha Penélope voltasse
a casar. Mas ela resistiu sempre, embora sem a certeza
de que Ulisses estivesse vivo. Só havia uma pessoa em Ítaca que acreditava, no seu íntimo, que Ulisses
haveria ainda de voltar. Era Telémaco, seu
filho, que sonhava dia e noite com o pai.
Na
verdade, Ulisses não morrera. Muitas tinham sido as aventuras
e peripécias que tivera de enfrentar após a partida de Tróia. Mas graças à sua extraordinária inteligência, conseguiu sempre sobreviver. O que
a mulher e o filho
não sabiam era
que ele perdera a nau e todos os companheiros num
naufrágio. Salvara-se a nado,
sozinho, conseguindo chegar à ilha onde vivia uma deusa solitária, Calipso. Esta deusa afeiçoou-se de tal forma a Ulisses
que não o quis deixar partir: queria que
ele casasse com ela. Queria
fazer dele um deus. Mas Ulisses, sempre
a pensar na mulher e no filho, nunca
aceitou.
A Odisseia de Homero Adaptada para Jovens por Frederico Lourenço, Lisboa, Cotovia, 2005
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